Soneto da Desesperança
"Perdi o bonde e a esperança." CDA
Aos poucos, perco o rumo dessa estrada
Desesperado estou do meu futuro...
Marcado trago o corpo da chibata,
Meu verso é o que sobrou de quase tudo.
Por meu trabalho, o pagamento justo
Não recebi nem fui recompensado
Por quem colheu da minha lavra o fruto,
Sem partilhar comigo o que era meu de fato.
Maior pecado ter nascido escravo,
Na cor da pele, ter, triste, o destino,
De via-sacra, em busca de Calvário.
Vou derramando, ao longo do caminho,
Meu sangue e meu suor, em cada passo...
Perdi meu bonde. E tudo está perdido...
Bela e honrosa interação do Poeta André Luiz Pinheiro:
Eu já perdi meu rumo há muito tempo
Na curva d'uma esquina que esqueci
Que hoje quando eu ando por aqui
Futuro e passado eu nem contemplo...
Gargalho do presente contratempo
Que até eu muito choro só de rir,
Mas levo a sério quando o porvir
Lembrando a morte traz como exemplo..
Não me preocupo mais com pagamentos
Considerando em mim proventos meus
De alguma paz, migalhas dos momentos..
E sigo caminhante, itinerante
Levando atentos versos de adeus
Aos ventos desatentos num mirante...