Tempestades
De aivazovaky qual rija tempestade
No meu ser se imprimiu tua ida
Do negro céu com ira desferida
No eu vergado em inconformidade
Encaneceram desde a despedida
Os anos. Mas na corporeidade
De teu ego carnal, a tua morbidade
Agarrouse-me n'alma escondida
Olho na rua próxima de repente
E é você quem vejo claramente
Numa forma concreta absoluta
Apresso os passos, olho premente
E desfaz-se a figura reluzente
Na sombra da mente dissoluta (...)
E,
Meu ser n'amplidão perdido encontrava-se. Na tua imagem percorri até a insubstâncilidade do éter gótico, onde a loucura encontrou afinal sua casa. Converteu-se portanto tua imagem, imagem concreta, rubramente densa, como o sangue de Otelo apaixonado a ir-se no chão, numa figura longínqua e intangível.
Vi milhares de simulacros teus andando, figuras magras, tantas vezes quanto vaguei sozinho. E o olhar que em choque vai lapidando cada uma, pára, então, e custo a certificar-me que você não volta, jamais.
São delírios da alma tremendo ante os sentidos mentirosos. A negação completa do palpável perante um querer maior, que essas figuras, que brotavam nas ruas dessa cidade, cidade morta, seriam por fim você. As ilusões da percepção distorcida, soterrada pela inconformidade de tua fatal ida, ida eterna afinal, unem-se na eternidade da vontade.