Tempestades

De aivazovaky qual rija tempestade

No meu ser se imprimiu tua ida

Do negro céu com ira desferida

No eu vergado em inconformidade

Encaneceram desde a despedida

Os anos. Mas na corporeidade

De teu ego carnal, a tua morbidade

Agarrouse-me n'alma escondida

Olho na rua próxima de repente

E é você quem vejo claramente

Numa forma concreta absoluta

Apresso os passos, olho premente

E desfaz-se a figura reluzente

Na sombra da mente dissoluta (...)

E,

Meu ser n'amplidão perdido encontrava-se. Na tua imagem percorri até a insubstâncilidade do éter gótico, onde a loucura encontrou afinal sua casa. Converteu-se portanto tua imagem, imagem concreta, rubramente densa, como o sangue de Otelo apaixonado a ir-se no chão, numa figura longínqua e intangível.

Vi milhares de simulacros teus andando, figuras magras, tantas vezes quanto vaguei sozinho. E o olhar que em choque vai lapidando cada uma, pára, então, e custo a certificar-me que você não volta, jamais.

São delírios da alma tremendo ante os sentidos mentirosos. A negação completa do palpável perante um querer maior, que essas figuras, que brotavam nas ruas dessa cidade, cidade morta, seriam por fim você. As ilusões da percepção distorcida, soterrada pela inconformidade de tua fatal ida, ida eterna afinal, unem-se na eternidade da vontade.

Anac Rocha
Enviado por Anac Rocha em 23/07/2020
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