COROA DE ROSAS E DE ESPINHOS - Mário da Silveira
Sedenta de ódio, cega de despeito,
nesta penosa e transitória lida,
a alma dos homens, pérfida e atrevida,
perde às cousas mais nobres o respeito.
Dizem: “Tudo o que sentes no teu peito
há de um dia passar, — porque na vida
tudo é incenso sutil, poeira diluída,
o que é terreno é efêmero e imperfeito.
Um grande amor é como o resto… A gente
quando menos espera, logo sente
apagar-se o clarão da ignota chama.”
Eu sei que tudo é como o fumo leve:
foge: mas, porque a vida seja breve,
há sempre um dia a mais para quem ama!
© Mário da Silveira
in: Coroa de rosas e de espinhos, 1922
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Mário da Silveira (Fortaleza, 17 de setembro de 1899 — Fortaleza, 22 de julho de 1921) foi um poeta e escritor cearense, é Patrono da cadeira nº 28 da Academia Cearense de Letras.
Grande leitor de clássicos, erudito e precoce, publica, em 1916, No Silêncio da Noite: fragmentos (de um de seus poemas) pela Tipografia de Irmãos Jatahy. Em 1919 realiza a conferência A Eterna Emotividade Helênica na programação da Casa de Juvenal Galeno. Em breve passagem pelo Rio de Janeiro, trabalhou como secretário de João do Rio, em A Pátria, cultivando amizade com Raul de Leoni e Ronald de Carvalho.
Entre 1920 e 1921, pouco antes da Semana de Arte Moderna (1922) em São Paulo e da chegada, nas livrarias, de Luz Mediterrânea, de Raul de Leoni, escreve o inquietante poema “Laus Purissimae”, composto não somente de versos polimétricos, mas de versos livres, o que o credencia como legítimo precursor da corrente modernista no Ceará.
Em 1921 retorna a Fortaleza e, neste ano, na noite de 22 de julho, com pouco mais de 21 anos, é brutalmente alvejado por cinco tiros, em plena Praça do Ferreira, o “coração da cidade”. Coroa de Rosas e de Espinhos foi publicado por amigos e admiradores, após a sua morte, numa tiragem de apenas 500 exemplares. O estudo O Canto da Beleza Nova, comentado por Sales Campos, permanece inédito.