LÁGRIMAS - Lívio Barreto
Lágrimas tristes, lágrimas doridas,
podeis rolar desconsoladamente!
Vindes da ruína dolorosa e ardente
das minhas torres de luar vestidas!
Órfãs trementes, órfãs desvalidas,
não tenho um seio carinhoso e quente,
frouxel de ninho, cálix recendente,
onde abrigar-vos, pérolas sentidas.
Vindes da noite, vindes da amargura,
desabrochastes sobre a dura frágua
do coração ao sol da desventura!
Vindes de um seio, vindes de uma mágoa
e não achastes uma urna pura
para abrigar-vos, frias gotas d’água!
© Lívio Barreto
in: Dolentes, 1897.
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Lívio da Rocha Barreto (Granja, 18 de fevereiro de 1870 — Camocim, 29 de setembro de 1895) foi um poeta brasileiro. É considerado o maior poeta simbolista do Ceará, embora tenha escrito poemas românticos e parnasianos.
Cedo, tinha apenas o Ensino Primário, teve que abandonar os estudos para atuar como caixeiro no comércio. Foi quando conheceu o magistrado Antônio Augusto de Vasconcelos que o ensinava, nas horas de folga, lições de Português, Geografia e Francês. Assim, com amigos, fundou o jornal literário Iracema publicando seus primeiros versos e crônicas humorísticas. Com esperanças de conseguir melhor condição de vida, viajou ao Pará (1888) onde teve acesso à leitura dos maiores poetas portugueses e conheceu João de Deus do Rego, que contribuiu para a formação de sua orientação literária. Em 1891, com beribéri e saudoso de casa, retornou ao Ceará. Nesse período, viu-se envolvido por uma intensa e triste paixão que o acompanharia até os últimos de seus versos e suspiros. Ainda em 1891, publicou “Versos a Estela”, além de sonetos e crônicas em A Luz.
Em 1892 vai para Fortaleza onde funda, juntamente de Antônio Sales, Adolfo Caminha, Antônio Bezerra, Henrique Jorge, Juvenal Galeno e vários outros jovens intelectuais a Padaria Espiritual. Ao voltar para Granja, no dia 27 de junho de 1892, o vapor em que viajava, Alcântara, afunda na praia de Periquara, perde seus livros e alguns poemas, mas escreva na areia da praia um de seus trabalhos mais famoso, o poema "Náufrago". Chegando finalmente em Granja trabalha como guarda-livros na companhia Beviláqua & Cia., antes de ir, em 6 de fevereiro de 1893, finalmente para Camocim, onde morreria dois anos depois.