TRILHA DE SONETOS VII - SAUDADE

*BORDADURAS*

Desalentado, a percorrer o escuro,

encontro luzes, ornamentos vários:

constelações de sepulcrais cenários

apontam feixes e emoções aturo.

Os arsenais do coração, precários,

enfrentam dores, resistir procuro,

termino exausto e o desespero duro

estende aos olhos infiéis sudários.

Nas bordaduras alimento o sonho

embora sinta o turbilhão medonho

de desconsolo aparecer, ingente.

Avanço mais, a claridade aflora,

recolhe estrelas o vigor da aurora,

desperto envolto no abandono algente...

Jerson Brito

*ESPÍRITO DA SAUDADE*

Minh'alma, que hoje tristemente emana

Os tempos idos, saudosistas; cores

De outrora jazem, juvenis olores

Do que era alegre e aurifulgente gana!

Velhice calma! Iluminadas dores!

Enxergo o tempo transpassado à chama

Do meu espírito, a saudade inflama...

Contemplo o espelho, solitário, e as flores!

Nitente sol, teimosamente, raia

Em minha vida renovando a praia

Do meu destino enegrecido, enfim,

Reflito antigos movimentos belos

E agora sinto os varonis anelos

Somente assim... me aproximando ao fim!

Ricardo Camacho

*CAMUFLAGEM*

Meu verso cheio de aparente afago,

se faz roupagem camuflando as dores

e feito um vinho a colorir bolores,

disfarça o fel de adocicado trago.

Se fui jardim amanhecendo em flores,

me dá saudade e eu versejando apago

a imagem triste, o amargurado estrago

e assim recordo eu cultivando amores.

Se foi descuido, afugentei meus pares,

sou, hoje, nômade invejando os lares,

dormindo ao léu, nidificando as ruas...

E o meu poema extravagante e rude

oculta as águas de um barrento açude

de um tempo arfante e de infinitas luas!

Edy Soares

*FIRMAMENTO AFLITO*

Derramo a vida na saudade fria,

queria amor e de repente o nada!

Perdi o abraço, a fantasia atada

Converto a lágrima em fulgor, poesia...

O céu sem cor, o temporal na estrada

A dor magoa, a primavera, o dia...

Relembro o tempo, o coração sorria,

Sentia a luz... Intensamente amada!

Agora vultos encobrindo as flores,

a mente busca a nostalgia, as cores!

E rasgo a foto amarelada e grito!

Saudade enlaça, inquietação, vazio,

o pranto desce, imitação de rio...

Suspiro e fito o firmamento aflito!

Janete Sales Dany

*VENDAVAL*

Entardecer de coração aflito

e da ilusão bebericar o vinho,

infelizmente, de viver sozinho,

aprimorou-se indispensável rito.

Deficiente de prazer e alinho,

a solidão se transfundiu no grito.

Do coração o vendaval eu fito

desfigurando a proteção do ninho.

...Sofreguidão de libertar minh'alma

e da consciência diluir o trauma

descomunal, que apelidei "saudade".

Amanhecer na solução das cores

e memorar das emoções primores

translucidou-se em divinal vontade.

Alex Oliveira

*O SOFRIMENTO DE BARBOSA*

Caminha calmo em direção da sala,

Após chegar da laboral jornada.

Pretende, assim, surpreender a amada;

Do peito o amor em profusões exala.

Olhou no quarto, na cozinha... e nada!

Percorre a casa pretendendo achá-la...

Depois Barbosa em reflexão se cala:

Lenita foi-se em diferente estrada.

Relembra dela, em pensamento atroz:

Os beijos, o hálito suave, a voz...

Os olhos vívidos e tão bonitos.

E assim diante da tenaz paixão,

Barbosa tenta distrair-se, em vão,

Enquanto escuta da saudade os gritos.

Gilliard Santos

*AMARGOR E SAUDADE*

E são quimeras refletindo odores,

Dos tempos idos, e paixões contidas...

Das belas falas, e missivas lidas,

Que rememoro as abrangentes cores.

E colorindo emocionais partidas,

A vida traz o sofrimento em flores...

Deliberando em emoções, vigores.

O quão maltrata, o percorrer, das vidas.

Um paradoxo, em genial conflito,

Então, no mesmo, confessando habito,

Vivendo assim a imensidão me invade.

Os pensamentos que romperam elos...

Fiel bonança, com sabores belos,

Ao mesmo tempo... um amargor, saudade.

Douglas Alfonso

*LAVRANDO A SAUDADE*

O forte vento ao aspergir olores

Encheu minh'alma de ilusão vindoura

Paixão flagrante ternamente doura

Recolho estrelas perfilando flores

Saudosa fico, e a comoção estoura

Contemplo a lua revivendo ardores

Um sopro vem refrigerar as dores

Renova o sonho a cultivar lavoura

Arando o peito e semeando risos

Reflora no âmago em sagrados visos;

Rebora a luz, que auspiciosa inflama

Intenso impulso, em especial desejo.

Saudades, tantas... desfrutai do ensejo!

Retorna! Vem... o coração te chama!

Aila Brito

*ABRIGO SAUDADE*

E vai-se o tempo revoando às horas,

com teus resquícios a levar do mundo,

os risos mágicos, o olhar profundo...

Sozinho, vago, escurecendo auroras...

Enquanto preso no passado, ao fundo,

o tempo segue, a devorar demoras

e espreme ao chão recordações, que enfloras,

de nosso enlace carmesim, fecundo.

Insisto, abrigo-me à saudade ingente,

a me esconder do temporal, à frente,

de interminável, glacial inverno.

O tempo é atroz e pertinaz senhor,

mas incapaz de derrotar o amor,

que, na saudade, cristaliza, eterno.

Marco Aurelio Vieira

*SAUDADE*

Saudade, amiga e companheira vera,

Falar-te venho do caminho estreito

no qual andejo a carregar no peito

angústia e dor, recordação, quimera.

Do mar profundo, o tenebroso leito,

Carrego, em mim, a solidão da espera,

Nos dias meus, a nostalgia impera,

E sempre triste, a soluçar, me deito.

Senhora minha, humildemente rogo,

Comigo vem, eu necessito, e logo,

Do teu afago, a dissipar agrura.

Sigamos, juntas, a esbater a chaga,

Cumprindo, assim, a inexorável saga

de andar ao léu, a padecer, sem cura.

Edir Pina de Barros

*A SAUDADE AZUL*

A tal saudade, adolescente cruz,

No peito pesa e a trajetória segue,

E faz que assim, no escurecer, eu cegue.

Eu não entendo o derramar do pus.

Mas para que eu, desse pesar, segregue,

Um brilho azul, na escuridão, reluz.

Contemplo, assim, a incandescente luz,

Fazendo, pois, que a confiança, eu regue.

O nosso amor, por conseguinte, entorna,

Feliz presença, de repente, torna,

Mandando a ausência, eternamente, embora.

Na grande Estrela, eu buscarei, faminto,

E o seu abraço, encontrarei, pressinto,

Na luz azul, que resplandece, agora!

Luciano Dídimo

*ABSORTO*

Na solidão o pensamento invade

Adormecidas e pueris lembranças

A recordar do penteado, em tranças,

Adolescente completando a idade...

De debutar! E namorar... saudade!

De, na paquera, aproveitar as danças,

E, nas quermesses liberar crianças

Empoderadas de infantil maldade.

Na multidão, recordações infindas

Desaparecem de quimeras lindas

E, mentalmente, despejamos fora...

O conteúdo acumulado em anos.

Reencetar, ardentemente os planos,

Resumiria o devaneio, agora.

José Rodrigues Filho

*RETALHOS DE SAUDADE*

Enquanto a imensa multidão seguia

o velho corso a desfilar sereno,

pela avenida, um folião pequeno

abrilhantava a singular folia.

E quando a cor da magistral magia

no preto e branco do mortal veneno

perdeu a cor no intermitente aceno

da despedida extremamente fria,

senti que aquele pequenino esconde

a sua mágoa interminável de onde

a nostalgia partirá sem volta

e o tempo em vão e envelhecido esquece

que todo sonho se transforma em prece

na vil saudade a nos causar revolta.

Adilson Costa