Frio soneto trímetro peônico dodecassílabo

Silêncio duro e cruel, mudez cruenta,

Pois gelo queima como fogo, e arde, e arrasa,

E torna em cinzas o afeto ante em brasa,

E averso à ave, não renasce, em pó se ausenta.

Anseio vão mudar o outro em violência,

Passivo abuso disfarçado em douto ato.

Quiçá alvitre de outro astuto, estulto inato,

Mesquinho açoite, imaturo em quintessência.

E o silêncio e a distância ampliam erros,

Vitima o alheio, mina o afeto, e no desterro

O afeito, aflito, em medo e culpa se esvai.

Ignorar, calar. E o tempo, deus perverso,

Das Mouras pai, sela um destino sem reverso:

O muro ergueu, o chão ruiu... Teu céu me cai.