LACRIMAE RERUM - Pe. Antônio Tomás

Ouço-as gemer em convulsões estranhas,

as árvores senis; choram os ventos,

corre o pranto dos rios alvacentos

pelas rugosas faces das montanhas.

O mar, fervendo em mal contidas sanhas,

povoa o ar de queixas e lamentos;

pelos vulcões, em vômitos sangrentos,

expele a terra as cálidas entranhas.

No ocaso expira o sol todos os dias,

e se vestem de luto pelo morto

o lago, o bosque, o vale, as serranias.

E à noite vem, com toda a mágoa sua,

sobre as mágoas da terra sem conforto,

velar, chorando, a compassiva lua.

© Pe. Antônio Tomás

_________________________________

Antônio Tomás Lourenço (Acaraú, 14 de setembro de 1868 — Fortaleza, 16 de julho de 1941) foi um pároco, poeta e escritor, o primeiro Príncipe dos Poetas Cearenses.

Cursou latim e francês em Sobral, e concluiu seus estudos no Seminário de Fortaleza, onde foi ordenado sacerdote, em 1891. Esteve longos anos a serviço da Igreja Católica, em paróquias do interior cearense, notadamente como vigário de sua terra natal, levando vida modesta e apagada, dedicado a sua missão, escrevendo versos e cuidando de sua paróquia. Exerceu o paroquiato durante trinta anos, tendo sido vigário de Trairí e de Acaraú, de 1892 a 1924, quando por motivo de saúde, deixou o exercício do múnus paroquial, a que dedicara todas as reservas da sua atividade apostólica.

Iniciou-se na publicação de seus sonetos, no ano de 1901, quando o Almanaque do Ceará, daquele ano, publicou o soneto Post-Laborem. Escreveu dezenas de sonetos que eram levados à imprensa pelos amigos, já que na sua humildade e timidez procurava fugir à publicidade. Recebeu, entretanto, ainda em vida, consagração popular, sendo eleito, Príncipe dos Poetas Cearenses, num pleito realizado pela revista Ceará Ilustrado, em 1925. Está classificado entre os maiores sonetistas brasileiros, gênero a que mais se dedicou, escrevendo também composições de feição e ritmos variados, caracterizando-se por sua independência em relação a qualquer movimento ou escola literária.

Foi membro da Academia Cearense de Letras e, em 1919, eleito sócio do Instituto do Ceará. Faleceu em Fortaleza, a 16 de julho de 1941, sendo sepultado no dia seguinte, na Igreja Matriz da Cidade de Santana do Acaraú, Ceará.

"Peço muito encarecidamente aos meus irmãos, sobrinhos, parentes e amigos que nunca, de forma alguma e sob qualquer pretexto, concorram para a publicação coletiva dos meus versos. Quero ainda que meu corpo seja enterrado sem esquife, e que a pedra da sepultura seja reposta no mesmo plano, ficando debaixo do chão, como atualmente se acha, e que não ponha em tempo algum sobre ela, nome, data ou outro qualquer sinal exterior que a faça lembrada."

Este é um trecho do testamento deixado pelo padre Antônio Tomás, considerado um dos maiores sonetistas do Brasil. Apesar de não ter publicado livros, seus versos constavam obrigatoriamente de qualquer recital, tanto na província, quanto em outros Estados.