ELES!… - Barbosa de Freitas

Passai, passai, ó tigres disfarçados!

Não perturbeis-me o plácido sossego!

Causa-me horror o vosso orgulho cego,

não me fiteis os olhos injetados!…

Tendes na fronte o torvo crime escrito…

Cingis à cinta o túrbido punhal.

Andais cantando — um canto sepulcral,

terrível, frio, estúpido, maldito!…

Tenho medo de vós… Vossas risadas…

Selváticas, bestiais, aguardentadas,

parecem-me o ladrar de cães doentes.

Sois para mim abutres carniceiros…

da humanidade os lúgubres coveiros,

os convivas da infâmia, intransigentes.

© Barbosa de Freitas

in: Poesias, 1892.

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Antônio Barbosa de Freitas (Jardim-CE, 21 de março de 1860 — Fortaleza, 24 de janeiro de 1883) foi um jovem poeta e dramaturgo que trouxe consigo a marca dos gênios, com a precariedade, a excentricidade e a irresponsabilidade, fazendo versos desde os 16 anos, levando vida dissoluta em um anarquismo romântico que logo o levou à tuberculose.

Indesejado, foi logo cedo relegado ao desprezo, sendo criado pelos avós, já que o pai não assumiu a sua paternidade. Por esse motivo que depravou-se na bebida.

Foi praticamente adotado pelo juíz de Jardim, Dr. Américo Militão de Freitas Guimarães, que lhe deu até o nome da sua família, levando-o consigo quando transferido para Maranguape, matriculando-o no Seminário de Fortaleza, com 13 anos de idade. Deixando o seminário, Barbosa de Freitas trouxe de lá a única base intelectual que o acompanhou na sua meteórica vida de boemia e desregramento em tudo, demonstrando nos seus versos quão proveitosa foi sua curta permanência no Seminário de Fortaleza onde conheceu os clássicos.

Discriminado desde o berço Barbosa de Freitas teve sua curta vida cercada de infortúnio e certamente malsinada pelo complexo da rejeição que procurou esquecer no alcoolismo, mas sua genialidade poética era tal que ainda hoje é objeto de estudos.

Viveu pouco, mas viveu intensamente, fechando os olhos para sempre em um dos leitos da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, por hemoptise tuberculosa no dia 24 de janeiro de 1883.

Parte dos versos de Barbosa de Freitas foi feito de improviso em lupanares ou mesas de bar, às vezes escritos em papel de embrulho, outras vezes copiados por colegas de bebedeira e o próprio Barão de Studart que o viu escrevendo os versos do livro “Dom Juan Cacique” tendo como mesa uma barrica de bacalhau em um armazém de Fortaleza. Deixou um drama entitulado "Joaquim de Sousa" produção essa feita em Maranguape, segundo Barão de Studart.

Perduláripo, triste, infeliz, apesar de tudo, o grande vate jardinense foi biografado por Otacílo Colares em “Lembrados e Esquecidos” e por Angela Barros Leal em “A História do Ceará passa por Esta Rua 2”, provando o seu valor e o lugar que ocupa na literatura cearense.

A maior parte de sua produção poética foi publicada Post Mortem por gentileza de amigos.