ABRIGO SAUDADE

E vai-se o tempo revoando às horas,

com teus resquícios a levar do mundo,

os risos mágicos, o olhar profundo...

E eu, solitário, escurecendo auroras...

Enquanto preso no passado, ao fundo,

o tempo segue, a devorar demoras

e espreme ao chão recordações, que enfloras,

de nosso enlace carmesim, fecundo.

Insisto, abrigo-me à saudade ingente,

para fugir do temporal, à frente,

de interminável e letal inverno.

O tempo é atroz e pertinaz senhor,

mas incapaz de derrotar o amor,

que, na saudade, cristaliza, eterno.