INFORTÚNIO
Falo-me, no silêncio da madrugada fria
E imersa numa escuridão tão densa,
Quão bela e calorosa seria a luz do dia,
Se no peito amado se deita e pensa...
Mas, tolhido o riso nos olhos cerrados,
Nem vento ou chuva tenho para ouvir,
Pulsações e suspiros em um só dos lados,
Nem perspectivas de vê-los surgir...
Quando o corpo se vê só e assombrado
Por esse infortúnio triste que o relembra
As horas amargas do próprio passado,
A voz que fala tão profunda e lenta,
A convencer-me do perigo ao lado
Que resta vazio e desolado, tenta.