INFORTÚNIO

Falo-me, no silêncio da madrugada fria

E imersa numa escuridão tão densa,

Quão bela e calorosa seria a luz do dia,

Se no peito amado se deita e pensa...

Mas, tolhido o riso nos olhos cerrados,

Nem vento ou chuva tenho para ouvir,

Pulsações e suspiros em um só dos lados,

Nem perspectivas de vê-los surgir...

Quando o corpo se vê só e assombrado

Por esse infortúnio triste que o relembra

As horas amargas do próprio passado,

A voz que fala tão profunda e lenta,

A convencer-me do perigo ao lado

Que resta vazio e desolado, tenta.

Abimael Borges
Enviado por Abimael Borges em 08/07/2020
Código do texto: T6999412
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