NOIVADO FÚNEBRE - Bonfim Sobrinho
Negra tristeza o meu semblante encova.
Oh noiva minha, oh lírio meu fanado!...
Por que não vamos na mudez da cova
em círios celebrar nosso noivado?
Nos sete palmos desse leito amado,
ao frio bom de uma volúpia nova
embalará o nosso amor gelado
o coveiro a cantar magoada trova.
E os nossos corpos, gélidos, inermes,
em demorados e famintos beijos
serão depois roídos pelos vermes;
E do leito final, que nos encerra,
em plantas brotarão nossos desejos,
e nosso amor em flores sobre a terra.
© Bonfim Sobrinho
in: Goivos e Rosas
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José da Silva Bonfim Sobrinho (Fortaleza, 19 de março de 1875 – Belém, 22 de junho de 1900) foi um poeta cearense inclinado à musa da tristeza, como lhe chamou Rodrigues de Carvalho nos apontamentos que dedicou a sua memória nas páginas da Revista da Academia Cearense, ano 50. Trata-se da publicação dos seus versos esparsos, tendo o título de Goivos e Rosas, nome que ele próprio escolhera. Espalhou suas produções pelos jornais, nunca chegando a reuni-las em volume. Fala-se de vários livros seus, como Goivos e Rosas, Musa Triste e Grinaldas, mas nenhum desses volumes foi jamais editado. Pertenceu ao Centro Literário, onde aliás já o vimos, entre os fundadores. Dolor Barreira, no segundo volume de sua História da Literatura Cearense, reproduz inúmeros dos sonetos de Bonfim Sobrinho.
Souza Pinto num trabalho que publicou sobre este iriditoso poeta, retrata nas seguintes linhas o moral e o físico do melancólico sonhador do Noivado fúnebre: "Alma boa e inofensiva, enclausurada num corpo franzino e indolente, possuidor de belos dons de inteligência, espírito impressionável e nervoso, Bonfim Sobrinho era por natureza um triste, em toda a extensão deste vocábulo. Os versos que escreveu são quase todos sombrios, e, cheios de uma inspiração sentimentalmente dorida e magoada".