A ÁRVORE - Francisca Clotilde
Ao contemplá-la, triste, emurchecida,
os galhos nus de folhas despojados,
sem a seiva que outrora tanta vida
lhe trazia em renovos delicados;
Ao vê-la assim tão só, tão esquecida,
tendo gozado dias tão folgados,
ao som dos passarinhos namorados,
que nela achavam sombra apetecida:
Ai! Sem querer encontro semelhanças
entre meus sonhos, minhas esperanças
e a mirrada árvore dolente.
Ela perdeu as folhas verdejantes,
bem como eu as ilusões fragrantes
que outrora me embalavam docemente.
© Francisca Clotilde
in: Almanach do Ceará, 1897
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Francisca Clotilde Barbosa de Lima (Tauá, 19 de outubro de 1862 – Aracati, 8 de dezembro de 1935) foi escritora, educadora e jornalista brasileira. Autora de A Divorciada (1902). Participou da campanha abolicionista e foi defensora da emancipação feminina. Publicou contos, poemas e artigos também por meio do pseudônimo Jane Davy.
Francisca Clotilde nasceu na fazenda São Lourenço, em Tauá-CE, e anos depois, mudou-se para Baturité. Terminado o Curso Primário, foi a Fortaleza, onde tornou-se aluna do Colégio da Imaculada Conceição. Passado esse período escolar, dirigiu-se à Escola Normal onde fez vários testes com o intuito de lecionar. Foi, portanto, a primeira professora do sexo feminino a lecionar na Escola Normal do Estado do Ceará, em 1882. Colaborou em vários jornais do Ceará, como A Quinzena, O Domingo e A Evolução. Sua produção literária enfatiza a emancipação feminina, a política e a liberdade. Também esteve envolvida com a campanha abolicionista.
Em 1902, publicou o romance A Divorciada, que trata de um tema bastante polêmico para o final do século XIX. Foi colaboradora assídua da revista A Estrella, fundada em Baturité por sua filha Antonieta Clotilde. No dia 05 de março de 1908, chegou à cidade de Aracati, atendendo a inúmeros pedidos de personalidades aracatienses e a 9 de março do mesmo ano fundou o Externato Santa Clotilde, junto às filhas Antonieta e Ângela Clotilde.