TRILHA DE SONETOS V - MAR

*** *AQUARELAS* ***

Suave, solto versos por encanto

Com verve a mim doada, do Divino...

E disse: "vai poeta bragantino,"

Libera teu saber, soltando o canto.

Ouvi o Pai Celeste, Eterno Santo...

Bradei envergonhado um simples hino

Pautado pela fé, busquei ensino,

O mesmo pude ter e verto pranto.

As gotas desse pranto, são sinais...

Dos risos conquistados e dos ais!

Forjando tão fiel sinestesia.

Com versos faço minhas aquarelas

E esquadras das mais belas caravelas...

Navego pelo mar da poesia.

Douglas Alfonso

*** *O MAR E A TERRA* ***

Às margens, beijo as ondas... vejo o mar...

O livre vento em corredor silente,

Desbrava a quietude, tão somente,

Mirífica paisagem ante o olhar!

Flutuam versos sobre aquele altar,

As águas no horizonte à minha frente,

No tom de azul profundo e o sol ridente

Infundem paz no meu sonhado lar!

Sozinho ali, a vida em mim melhora,

O som de Deus me embala até agora,

A nostalgia morre e a mágoa encerra...

Os versos neste canto que rebora

Toda beleza e eu vejo a nova aurora

Dourar o azul e o bege: o mar e a terra.

Ricardo Camacho

*** *O MAR DO NOVO DIA* ***

Do mar estimo o pranto da saudade

O olhar perfaz o azul e até convida

A brisa adentra em mim, amor que invade

O sonho voa, abraça a luz da vida

Adoro o mundo, um verso eternidade...

Obtenho rimas de ouro, a verve ungida!

A fonte alcança os pés e o medo evade

O céu da glória, a fé fortalecida!

Desejo a aurora erguida na canção

As notas são do amor que vive em mim

No mar amarro tudo, e esqueço o não!

Queria ver a cor da fantasia

O verso ondula e só me diz um sim

Se quero espero a vez do novo dia!

Janete Sales Dany

*** *TARDE* ***

Entristece-me, ver a luz que finda,

ante a varanda, avermelhando o mar.

Se triste tu és, assim, sejas bem-vinda

ó tarde, até que eu venha me entregar.

Se a vida foi-me suave, breve e linda;

é tarde e finda para não voltar...

Amanheceu, a tarde veio e, ainda

é muito cedo para se acabar.

Por ser tão bela a vida eu tenho pena

ao perceber que chega ao fim, a cena

em que a cortina fecha e a luz se apaga.

Ah que saudade eu sentirei de mim,

se esse belo roteiro tiver fim

e não for dado chance à nova saga!

Edy Soares

*** *PEGADAS NA AREIA* ***

Ao relento, contrito caminhando,

o marulho das ondas nos corais...

mergulhei no silêncio dos meus ais,

por andar as pegadas fui deixando.

Ao notar muitas delas se apagando,

assustado, com medo, por demais...

não havendo nem vento, ou areiais,

ninguém, pois, pela praia estava andando.

Mas, segui, caminhando lentamente,

uma voz ao falar, mas, calmamente,

elevando meus olhos... embaraços...

Vi Jesus me dizer tranquilamente:

as pegadas, não viste simplesmente,

porque estive contigo nos meu braços!

Dulce Esteves

*** *ARGONAUTA* ***

Sou argonauta astuta, solitária,

a navegar as águas das tristezas,

lutando contra tudo, correntezas,

como se eu fora, neste mundo, pária.

Jamais eu fui senhora donatária

de terras firmes, campos de certezas,

cheios de cercas, muros, fortalezas,

florestas de aroeiras, araucárias.

Sou navegante, sim, sou argonauta,

que nas tormentas segue firme, incauta,

cumprindo seu destino, travessia.

Navego mares, rios, pantanais,

transponho seus abismos colossais

buscando a eterna fonte da poesia.

Edir Pina de Barros

*** *VERSOS LIBERTOS* ***

Eu quero a poesia flutuando

por entre versos meus, despidamente,

a se espraiar no mar, ao vento brando,

sem rumo, por acaso e displicente...

E não determinar sentido ou mando

nas emoções que todo humano sente;

e o faça estar, a todo, inteiro, amando

o ardor e a luz de ser, ao sol, vivente.

Eu quero a poesia que transcenda

vocábulos, vernáculos, se ascenda

e leve os versos meus, a aconchegá-los.

E contemplar, libertos da autoria,

meus versos revoando na poesia,

até ser impossível alcançá-los.

Marco A

*** *SONETO NO MAR* ***

Nos sons de cada verso do soneto,

Escuto o verde mar e o seu cantar.

As rimas vejo, em pares, no quarteto,

Cruzadas que se põem a marejar.

Estão também cantando em um dueto

As rimas abraçadas com seu par,

Que dançam a ondulado balançar

E acenam à chegada do terceto.

O mar da poesia assim abriga

Sonetos-peixes métricos, heróicos,

Levados pela vasta correnteza.

Só peço, por favor, que não se diga

Que os peixes sejam presos paranóicos.

São livres na clausura com certeza!

Luciano Dídimo

*** *NO MAR DA POESIA* ***

Navego pelo mar da poesia,

Deslizo por suave correnteza,

Mas sigo a rota sem ter a certeza

Do que me aguarda a cada novo dia.

A busca do lirismo é o que me guia;

Aos poucos vou ganhando mais destreza;

Enfrento as intempéries com firmeza

E assim venço a procela e a noite fria.

Adentro, então, por trechos mais profundos,

Visando descobrir os novos mundos

Em minha caravela, firme e forte...

Sei que há muitos segredos neste mar

Não sei onde a viagem vai findar

Mas eu navegarei até a morte.

Gilliard Santos

*** *SOB A LÍRICA DO MAR* ***

Contemplo o manto azul do belo mar

Recordo um terno olhar puro e flamante,

Mergulho em pensamento delirante

E em ondas sinto o amor se derramar.

Na brisa chega a mim o agasalhar

Do teu carinho, em tom leve, calmante

Como um poema lido em voz amante

Ao pé do ouvido, em doce sussurrar.

A lírica do mar, me envolve e agrada

E fico a desejar-te, ó minha amada

Aqui, juntinho a mim, me entorpecendo.

Porquanto o teu perfume a me envolver

Poemas em dueto, eu vi nascer

(Você e o mar), no meu peito aquecendo.

Aila Brito

*** *MARCAS* ***

Enquanto tece o mais gentil dos mares

paisagens na retina e mimoseia

meu pensamento errante, a lua cheia

no chão despeja o brilho de colares.

Afagam-me as quimeras paladares,

andanças apagadas nesta areia

que o coração ainda galanteia,

curvado frente à pompa dos altares.

Na solidão, cercado pelo escuro,

medito nas espumas, seus balés,

na prata resplendente e aqui murmuro.

Em mim também se elevam as marés

de pranto ao desenlace prematuro:

na praia não há marcas doutros pés!

Jerson Brito

*** *CÂNTICO AO MAR* ***

Às vezes os seus passos são somente

uma extensão infinda do farol,

cansados sob a veste de um poente

que faz do entardecer o seu lençol

para que a lua surja de repente

mesmo que a vida perca seu anzol

e o pescador se faça displicente

perdido pelas pedras de um atol.

As andorinhas pelo céu imenso

prometem que serão o eterno lenço

do pranto que o poeta desaguar

no cântico sublime que outro dia

mostrou para o poeta a melodia

da partitura azul que adorna o mar.

Adilson Costa

*** *MAR* ***

Mar, ó mar, que na praia se arrebenta

revolto a se escumar, tão iracundo,

e volta logo ao pélago profundo

da escuridão do ventre da tormenta;

e geme em dor, sozinho, enquanto venta,

(gemido que se ecoa lá no fundo)

perdido, dentro em si, tão errabundo,

enquanto a dura sorte, em vão, lamenta.

E escuma... E escuma... Dobra-se em mil vagas,

gemendo em dor nas pontas das adagas

da solidão maior que em si alberga. 

E quando tudo se aparenta calmo,

(e o seu ruído até parece um salmo),

o vendaval sem fim o açoita e enverga.

Edir Pina de Barros

*** *CADÊNCIA DO MAR* ***

Amar o mar, bravio, que se esfuma,

Na acidentada costa de oceanos,

Rochedos esculpindo ao longo de anos,

Ou calmo, amar o mar em mansa espuma?

O mar é vida, mesmo em densa bruma,

E a evolução para ele criou planos.

Posseidon com Netuno, e outros sicranos,

Não criaram o mar coisa nenhuma!

A Terra, se criando sem encanto,

Com tectônicas placas sobre o manto

Define seu relevo e a geologia...

O sol e a lua, mais a gravidade,

Regulam as marés pra humanidade

Gozar ou odiar sua harmonia.

José Rodrigues Filho