VORACIDADE

Nessa antropofagia social,

a caça desatina em doida fome,

enquanto o caçador a encerra à sina

de arder de sede infinda frente à fonte.

O predador ladino, à trilha, ateia

o fogo que se alastra, de armadilha,

com mechas e com garras semoventes,

que entortam trajetórias, alvo, o jogo.

O bando de primatas hominídeos,

a orgias canibais comendo o mundo,

a empanturrar-se inteiro de vazios,

vomita a massa encéfala e a mastiga

voraz. E quando não se tem mais nada

o que comer, devora a própria história.