SONETO VII
Esse soneto que vai, sem ter ido,
Que se repete em incenso no ar,
Pois o coração bem o sabe guardar,
Ficará pelos sentidos retido!
Abre-se o paraíso perdido,
Com seus doces odores e pomar,
Poucos dirão: não é aqui o lugar.
O ter esquecido, o nunca tido.
No inconstante tempo, tempo fixado.
Há sempre guardada uma outra metade,
Em águas tormentosas fica ilhado.
Saudoso vel, encobre aquela tarde,
Pretérito e presente, lado a lado:
O beijo que fez breve a eternidade.
(Ricardo Gomes Pereira)