FLOR E SANGUE
Em cima da mesinha, insiste a nívea flor,
que mesmo amedrontada, ao sol se entrega toda
e forma, com a brisa, um par de dançarinas
bailando ao tom do acaso, em leves movimentos.
Embaixo da mesinha, o chão coberto em sangue
ampara o corpo morto a tiro de escopeta,
da mão de algum capeta à farda ardendo em ódio.
O corpo pobre puta escória preto bicha.
Alheia flor que viça o alvor da singeleza,
na mesa, no vasinho, a linda espera o incerto.
E o corpo a recender seu óbito final.
Assim a vida mostra a face fria e seca:
acima do covil de pestes e extermínios,
o vento impele a flor ao branco do amanhã.