A TEIA

Do corpo dado, à noite, em oferenda,

assim, gratuito, livre, bem gostoso,

apenas o sinal do imenso gozo

que foi gravado a dente em sua fenda.

De resto, mergulharam-na à execranda

desonra de pessoa a impróprio vezo,

contrária às convenções, além do peso

da hipócrita vivência em vã demanda.

De tanto açoite e soco, fez-se teia,

amplia-se, entrançada à cama alheia,

e aos castos, mostra: amor é de fazer.

Adora se vender abrindo a saia

e alçar delícia à dor que até desmaia

nos rituais sombrios do prazer.