SONETOS ALEXANDRINOS COM "VENTRE" DE DECASSÍLABOS

*** *ALVOS CHÃOS* ***

Nestes dias, a dor se faz presente,/a vida

Mais parece um natal de um só, tristonho/e escuro;

Hoje, lembro, na flor da idade um sonho/e o muro

Hirto entrava a esperança exausta, ausente!/Oh, lida!

Raciocino contido o instante em mente/ouvida,

E me entendo incapaz, então, componho/o puro

Pensamento invasor de um ar medonho,/impuro,

Assassino e um pavor que humano sente/em vida!

É feliz, quem tem fé e não se medra,/assim,

Infelizes de sal, de casca e pedra,/enfim,

Mas que um dia serão felizes, salvos,/sãos,

Superados os vãos, por vezes tantas,/vamos

Adornando em florões, também com plantas,/ramos

Renascidos de amor, de nossos alvos/chãos!

Ricardo Camacho

*** *GOZO MAIS INTENSO* ***

Então, o coração mondou-me inteiro,/enodo,

ao despertar em ti, ao sol que atua/à essência,

levíssimo! Indefeso, ao léu, à lua,/à urgência

de afago na ilusão que amansa, arteiro,/engodo.

Estúpido que fui! Agir rasteiro!/Lodo!

Levar a frágil flama à brasa tua,/à ardência

e quase sucumbir, carvão, em crua/ausência,

descrença de luzir por mim, certeiro,/todo.

Pois entregar ao outro a sua chave,/mundo,

seus meios e sentido, o agudo, o grave/e fundo,

na espera de viver a amor melhor,/intenso...

É como que arrancar o genital/no talo

doar a um alto ser, especial,/pra usá-lo,

pensando que seu gozo é, assim, maior,/imenso.

Marco A

*** *RECANTO DA SAUDADE* ***

O paiol velho, a casa embaldramada/e rude,

o alpendre sextavado e os seus portais/de esteio;

uma pinguela que hoje está quebrada,/o açude...

São dos recordos meus os mais reais,/eu creio.

A história dos meus ais, se mal contada,/ilude,

quais tantas outras mais... que quanto mais/mas leio,

eu vejo... Fomos pouco ou quase nada!.../E eu pude?

- A vida começou sobre animais/de arreio!

Eu fico, aqui, com meus botões pensando/e aceito,

que um sertanejo só se entrega quando/o peito

rasga a saudade à luz do lindo céu/caipira,

pois lá na roça o céu com seu luzeiro/encanta,

qualquer matuto, então, se faz violeiro/e canta

curtindo a noite sob o seu chapéu,/de embira!

Edy Soares

*** *SOLIDÃO - NA MADRUGADA ADENTRO* ***

Na madrugada a dor da solidão/desponta,

E Ela deseja a paz! Tenta; porém,/a cruz

vem 'com a' brisa, que traz mágoas; e além,/aduz

também saudoso ardor. E o coração/remonta

Sua vida e fulgor - mera ilusão,/por conta

do ciúme, que desfaz - e o pranto advém/-abduz...

E o átrio fraco, refaz o que convém;/conduz

e afugenta o esplendor, na imensidão/que afronta

O sentimento bom. Tiste e cruel,/revolve

O cenário banal, e o horror voraz,/ que a envolve...!

E Ela assoma o edredom... O amor fiel,/que acorre

e traz à vida o dom de amar e crer;/no entanto,

o curso natural, tolo e fugaz,/traz pranto,

e o amor e seu frisson, no enfermo ser,/jaz; morre.

Aila Brito

*** *DIVINO PINCEL* ***

Percebo no esplendor da natureza/em festa

a imensidão do céu, a passarada,/as flores,

pingentes sobre a relva ornamentada/e as cores

aos beijos com o sol... Quanta viveza/empresta!

A brisa em folharais com sutileza/atesta,

exalta a mão de Deus manifestada.../Olores!

Degusto no painel da unção sagrada/ardores,

melífico elixir... Plena pureza/é esta!

O louro refletor me acaricia,/abraça,

esparge mornidão, verte harmonia/e graça

nas rútilas feições de um caminheiro/amado.

Nas obras magistrais vejo figuras/belas

dizerem que o Senhor traz das alturas/telas,

presentes a enfeitar todo o roteiro/andado.

Jerson Brito

*** *FLOR DE RESISTÊNCIA* ***

Nossa fragilidade é a de uma flor/sem cores

Porém se a flor resiste a cada inverno/azedo,

Melhor não aceitar viver o inferno/em dores.

Melhor não sucumbir nesse terror/e medo.

A força faz unir com tal vigor/as flores.

As nossas armas são livro e caderno/cedo,

Pois pelo bem-querer é que eu alterno/humores.

Daremo-nos as mãos por um amor/rochedo.

Existe um arsenal contra a cultura/em valsa,

Pois o plano é levá-la à sepultura/rija

E depois lhe prestar a condolência/falsa.

É preciso livrar as flores dessa/morte,

Fazer que virem cacto assim depressa/e exija

Que sejamos a flor de resistência/forte!

Luciano Dídimo

*** *AMOR COM AMOR SE APAGA?* ***

No escuro do meu quarto, um pensamento/trago.

Martela o tempo inteiro, a solidão,/enquanto,

É minha companheira, em tal momento./Em pranto,

Tentando reagir, mas sempre em vão.../Naufrago...

Da luz que brilha tanto, o esquecimento/mago

Jamais se pode dar na escuridão,/porquanto,

Somente apaga a brisa um forte vento./E tanto,

Ruídos, cala o atroz forte trovão./Bem vago...

O amor se apaga em mais amor. Crendice?/Certo.

Somente extingue a luz a luz maior,/total.

Um olho bom faz, entre os cegos, rei,/de fato.

Mas esse pensamento é só tolice,/ou perto,

E basta que se veja em derredor,/geral.

Que nada vai mudar tão dura lei/ou trato.

Fernando Belino

*** *DE VOLTA AO MEU SERTÃO* ***

À tarde, no terreiro, escuto um cão,/que late...

Parado aqui observo o tom da mata,/calma,

Que em brisa chega a mim e me formata/a alma.

Tão belo é meu sertão! Não há quem não/ constate,

Repare o quanto é bom. O coração/já bate

Mais forte. A chuva vem, como constata/a palma,

A mão aberta... e o cheiro, então, delata,/e acalma...

Aqui sou mais feliz, nesta missão/de vate.

Avisto a instalação junto a um curral/de ovelhas

E o natural jardim. Depois adentro/em casa.

Eu sinto enorme paz! E nostalgia,/em parte...

A chuva grossa faz um musical/nas telhas.

No fogo aceso, à lenha, a espiga dentro,/a brasa

Trabalha. O meu sertão é poesia.../é arte!

Gilliard Santos

*** *SONHAR* ***

Noites frias, a paz se fez total/e leve

um deserto sem luz, e bem além/a praça

nenhum guarda por lá fato normal/e breve

vem um jovem achar que faz é bem/a graça

de fumar pela rua, acha banal/e deve

se drogar vai trazer o que convém/e caça

essa droga por ser droga legal,/oh, neve!

fumaça que traz dor, que faz refém /a traça

da loucura que faz o seu pior/o dano

o seu corpo pedir,e por desdém/in sano

esta droga mortal, oh meu Jesus, oh, pena!

só nos resta oração, pensar melhor/o plano

resgatar com amor em seu redor/o mano

estender nossa mão mostrar a luz/tão plena.

Dulce Esteves

*** *RELICÁRIO* ***

Há véus em teu olhar que nada diz/expressa

Na noite desse amor que se desfez/no nada,

Porém deixou sinais em minha tez/cansada

Do tempo que passou e fui feliz/à beça.

Não tenho o que alegar - nem me condiz-/ter pressa

Falar do que se foi, da candidez/passada

Em meio ao teu silêncio, essa mudez/velada

Que assim me deixa mal, sem diretriz,/promessa.

Também o que dizer? A vida é assim,/refece

E tudo em si se esvai, e chega ao fim,/fenece,

A morte de um amor é o seu fadário/certo

Não há como salvar um grande amor/antigo

Porém o levarei por onde eu for/comigo,

Dentro do coração, um relicário/aberto.

Edir Pina Barros

*** *NO VENTRE DA POESIA* ***

Quando o menino olhava a branca lua,/via

pela fotografia azul do céu,/a estrela,

tirava tão feliz o seu chapéu/ao vê-la,

hoje somente a dor se perpetua,/fria.

A inspiração da noite era só sua,/cria

para o poeta ser somente um réu,/e ao tê-la

na imensa escuridão do negro véu,/retê-la

suavemente ouvindo a voz: sou tua,/dia.

Os fios de algodão em sua alvura/plena

seriam tão somente a cobertura/amena

da imensidão de luz que Deus nos dá/de graça

sem ofuscar qualquer uma visão/que a sina

do pequenino e a mão do tempo em vão/ensina,

para que a vida seja um deus dará/que passa.

Adilson Costa