SONETO MEDONHO
Janelas prenhes de silêncio à espreita
Das calçadas vazias desse agora --
São os olhos duma dor perturbadora
Sorvendo o dia, escuridão perfeita.
Da luz que se insinua em fresta estreita
Exala a sugestão do que há, cá fora,
Em dia sem beleza redentora,
Em vida já sem fórmula ou receita.
Enlouquecidas, já, de não ter sonho,
As janelas em treva permanente
Olham sem ver em dia assim, medonho.
Alguém batendo à porta, algo insistente,
Sem suspeitar que o dia é mais tristonho
Sob tais janelas, pobre inconsequente...
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