TRILHA DE SONETOS IV
*** *AMOR NO INVERNO* ***
Na madrugada... nessa madrugada,
Acordo após sonhar contigo... um sonho
Como se fosse a realidade; eu ponho
Meu coração nos versos, minha amada,
Em nome da distância dessangrada,
Nesta hora, cinge todo um céu tristonho,
Cintila a estrela tímida em risonho
Encanto fugidio e apaga o nada!
Na escuridão, deitado, imerso ao leito,
Agora, digo tudo o que meu peito
Não mais comporta, à luz do Amor Eterno.
Cantar na condição de Dor que aceito,
Talhado neste instante insatisfeito,
Com frio neste virtual inverno!
Ricardo Camacho
*** *EPITÁFIO* ***
Há neste frio intenso um que de nostalgia,
uma tristeza oculta, um ar mais carregado;
parece até que o céu também está mudado,
a solidão é fria... E a noite está mais fria!
Olhando da janela, o lago congelado
é feito a vastidão dessa melancolia...
Não volto mais aqui pois sem a companhia
da minha amada, o inverno é muito mais gelado...
Meus dias por aqui não são mais relevantes,
também estou partindo e deixo aos visitantes
uma plaquinha, escrita, amarrada na porta:
Aqui vivi feliz, mas hoje, entristecido,
sem meu amor de inverno eu me sinto perdido...
Vende-se o bangalô, o preço não me importa!
Edy Soares
*** *AGASALHO* ***
E tu ataste meu destino em teu novelo,
desenrolaste a lã na sala de teus planos.
E eu preso à fibra fina, eu fio e nu em pelo,
fui me espalhando no recinto com meus danos.
Depois juntaste o emaranhado, sem desvelo,
e me teceste em veste quente, em teus profanos
comportamentos insensíveis (puro gelo)!
E eu, agasalho que aquecia-te os enganos...
Passado o tempo, minha fibra, meu destino
perdeu o viço, todo o brilho, toda a graça
para teus olhos, o teu corpo, tua estrada...
Então, despiste tua sina do meu tino
e meu calor já não te serve, não te abraça.
Eu, peça velha na gaveta, embolorada...
Marco A
*** *AMO AMAR-TE!* ***
Um doce cheirinho lembrou açucena
Por baixo da fronha do teu travesseiro
Nos toques notei posso ser o posseiro
Sentir o teu corpo, vou chamar-te Helena.
Os beijos, carícias de forma tão plena
Tornando este sonho bem mais verdadeiro
Amando-te sempre, sentirei teu cheiro
De olores diversos componho esta cena.
Fragrância exalando por todo ambiente
Aroma de flor, mas, com toque envolvente
As minhas narinas jamais sentirão.
No quarto, na cama ficou novamente
Suor encharcado num misto da gente
És flor, és perfume de manjericão.
Dulce Esteves
*** *UM CORAÇÃO NUBLADO* ***
As lágrimas do inverno embaçam a janela
de um quarto onde a saudade infinda faz morada
e aponta para um céu de noite enluarada
enquanto o candeeiro antigo o leito vela.
Procuro na gaveta outro retrato dela
para que eu sobreviva à triste madrugada
e a taça já vazia e a carta amarelada
e a vida para mim outrora era mais bela.
O desamor transforma em nostalgia apenas
a inspiração que um dia alimentou as penas
do velho sonhador de coração menino.
Quem sabe a primavera ainda oferte flores
para o caixão de quem morreu por seus amores
dispersos pela rua insana do destino!
Adilson Costa
*** *NÃO VÁS EMBORA!* ***
Não vás embora meu amor! Chuvisca
e está tão frio. O céu está nublado.
Podias descansar - estás cansado –
e a escuridão do céu um raio risca.
A tênue luz do quarto freme e pisca,
e vejo, entre clarões, teu corpo amado...
Ai! Tu bem sabes que, contigo ao lado,
não agiria igual pombinha arisca.
Refulge em mim a luz dos teus olhinhos,
que aumenta os meus desejos de carinhos...
Ai! Não me negues, não, essa alegria.
Pois fica, meu amor, que serei tua,
aqui, à luz de velas, que acentua
o encanto ímpar dessa noite fria.
Edir Pina de Barros
*** *TEMPORAL DE INVERNO* ***
Sozinha, neste temporal de inverno
Meu aconchego é chama que resfria
Por tua ausência, por tanta agonia
Causando um reboliço ao lado interno
Meu coração faltoso a ti consterno
Ao tempo que te invoco a parceria
Não há melhor momento de alegria
Que o teu abraço ao meu, gostoso e terno.
E nessa eterna troca de carinho
Que a gente se desculpe, e hoje se aqueça
Por nosso amor e tudo o que mereça
Tornar-nos purgo desse tal conflito...
Escuta meu amor; brado e repito,
Venha correndo, e abrasa o nosso ninho!
Aila Brito
*** *INSTINTO INVERNAL* ***
Em pleno outono, sinto-me no inverno
Depois de um tempo farto de bonança
Pois zéfiros levaram a esperança
Por mim grafada, em ânsia, em meu caderno.
O gélido solstício adentra o eterno,
No que restou do amor, doce lembrança:
O vinho, a mesa, a cama, após a dança;
Lampejos de saudades, e afago terno.
Levanto firme a taça, e o frio avança...
Se a Meire não voltar o fiel cansa
E a mente inebriada quer calor...
O corpo pede corpos aquecidos:
Garotas! Meus desejos reprimidos
Aceitam a venal troca de ardor.
José Rodrigues Filho
*** *MANHÃ DE DOMINGO* ***
Domingo de manhã, lá fora o inverno
Faz seu papel enquanto a estúpida horda
De bêbados e vândalos acorda
A rua com seu “hit” mais moderno.
Cá dentro, neste meu refúgio interno,
Eu armo a rede, amarro-a numa corda,
Relembro a namorada... o amor transborda
E o ponho em prosa ou verso em meu caderno.
Esqueço o frio e o som... lembro a fragrância
Da amada, o abraço, os beijos, seu calor...
Saudade é o que me vem por circunstância.
Mas doravante, seja como for,
Porque apesar de toda essa distância
Será mais forte ainda o meu amor.
Gilliard Santos
*** *OLHAR ALÉM DO INVERNO* ***
Encaro a tua face, traço fino,
Os olhos, invejados, de diamantes,
São astros cravejados, fulgurantes,
Num rosto angelical e feminino.
A voz que sai num timbre fascinante,
Ecoa na minh'alma como um hino,
As mãos que tocam têm o meu destino,
Calor de eternidade num instante...
... A tua sombra é minha própria luz,
Com formosura brilha nestes versos,
No inverno de um poeta, então, menino
Que neste frio, em súplica, seduz,
Juntando o meu e o seu: os universos;
Sou louco nesse encanto cristalino!
Fábio Rezende
*** *AGONIAS* ***
Na algente madrugada, encontro mãos macias,
mergulho em convulsões a pele gotejante,
misturo meu suor ao teu instinto, arfante
frente à sofreguidão de loucas fantasias.
Entrego-me ao vigor de taras, agonias
e embarco rumo aos céus contigo nesse instante
repleto de lascívia, alegre caminhante,
sem nada mais querer além do que anuncias.
À gelidez do vento imponho meus ardores,
o brilho juvenil dos olhos sonhadores
tomados pelos teus, também efervescentes.
Somente uma estação conhece quem partilha
o amor em plenitude, aquela maravilha
plantada nos jardins de corações contentes.
Jerson Brito
*** *SAUDOSISMO* ***
Deitado na paixão de seu abraço,
eu era agraciado com a ternura
do coração daquela criatura,
que palpitava o cântico do espaço.
E mesmo sob inverno, aquele traço
de extrema devoção era a quentura
que havia em descobrir secreta cura,
que havia em me esquecer em seu regaço.
Mas como o inverno se esgueirando passa,
o seu amor passou. E hoje me abraça
um sol de angustiante piedade.
Meu corpo nega o céu, o tempo estio;
eu sinto da tristeza o gosto frio,
eu provo o beijo bruto da saudade.
Alex Oliveira
*** *FRIO NOTURNO* ***
Neblinas cinzentas por trás das colinas,
Orquestras dos ventos na noite sombria,
E a lua se expondo por entre as cortinas
Mostrando pra gente tão grande magia,
O Frio noturno de danças surdinas
Invade esse quarto em feroz teimosia.
E tu, flor, donzela, em meu peito declinas,
Revives o amor quando outrora jazia,
E até bem mais puro, portanto, o que vemos,
Bem mais duradouro o que nós bendizemos
Decerto nos cobre na Bênção do Eterno,
Então descansemos, que a vida dirá
O tempo de fato que o amor durará,
Por quatro estações, ou somente um inverno.
Lucas Mendes
*** *SONETO DO LONGO E FRIO INVERNO* ***
De novo jovem ser... Maior quimera!
Da vida em frias brumas avançando.
O caminhar que fosse bem mais brando
E ao menos mais feliz, talvez, pudera.
A paz e o amor em buliçosa espera.
A juventude em festa me chamando
O dia inteiro passarinho em bando.
Nas luzes da mais plena primavera.
O tempo passa e deixa em seu caminho
Um rastro de saudade e nostalgia...
Quisera o verde tempo ser eterno...
Por certo, aliviaria o mal mesquinho
Da noite sempre longa e tanto fria
Do inevitável e tão cruel inverno.
Fernando Belino