VEIA POÉTICA

VEIA POÉTICA

Bêbado, o poeta serve-se de agonia

Que lh'escorre da veia em hora incerta.

Deixa sangrar... À chaga mais aperta,

Enquanto a folha em versos se tingia.

Algo haverá de torpe na mania

De se meter o dedo em chaga aberta...

Contudo, desatada e descoberta,

Da veia os versos fluem em sangria.

Exangue, o poeta escreve em solidão.

Logo o vinho que bebe e lhe invalida

A folha que encharcada cai ao chão.

E os versos onde pôs a alma despida

Perde ainda que sangre o coração,

No afã de por sua arte dar a vida.

Betim - 20 03 1994