A CADA UM O SEU DESTINO
(Para Ricardo Camacho, por seu poema NUNCA SÓ)
Nascemos sós a cada um o seu destino,
Labirinto do qual ninguém pode escapar.
Nem bem chegamos já é hora de zarpar,
O seu tempo se esgotou, já dobra o sino.
Há contas a prestar, passar no pente fino.
A alma vai sozinha pra outro patamar,
Sem ter o já inútil corpo a lhe pesar,
Resplandece, num leve brilho hialino.
Por aqui seguiu a trilha da retidão,
Numa vida de pobreza em terra alheia,
Porém sempre cheia de resignação.
Ao despedir-se uma lágrima cai na areia,
Enquanto parte envolta em luz em plena treva.
E tudo mais fica pra trás, nada se leva.
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NUNCA SÓ
Dificilmente o ser humano escapa
Da senda que se mete, solitário,
Na terra, em breve, o trágico inventário
Perdendo o pergaminho a sua capa!
Enquanto em pé, desenha sem borracha
O seu destino em verbo proletário,
Pisando com seus pés de locatário
Um solo cuja a mãe ele não acha!
Expende a lágrima no extremo instante
Quando esmorece e tudo está distante
Na treva oculta, mas, envolto a luz,
A luz amiga, sempre tão constante,
Que nunca trata como um filho errante
E apenas torna leve a sua cruz.
Ricardo Camacho