ESQUECER PARA NÃO ENLOUQUECER
(Em resposta ao poema COVEIRO II, do poeta
Piauiense Armengador de Versos)
Desculpe poeta, mas acho que o coveiro,
Frente a um fato tantas vezes repetido,
Não mais padece nem se sente compungido,
Com aquilo que realiza o dia inteiro.
Não condeno por isto o sepulteiro,
Agir assim é da humana natureza.
Enfrentar a qualquer tarefa com frieza,
E até encarar como fato corriqueiro.
Todos somos assim, uns menos outros mais.
Penso que isto seja para nossa proteção,
Ao encararmos uma dura profissão.
O esquecimento nos livra da loucura.
Não existe uma outra forma mais segura,
Sejam médicos ou outros profissionais.
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COVEIRO – II
- Sou coveiro sim, deste cemitério, moço;
Onde enterro nem sei quantos corpos ao dia,
Chegam escaveirados de melancolia,
Parecem uns chorar na descida do poço.
Nem pense que me julgo imune ao alvoroço,
Ou picado por mosca da topofilia,
Diretamente sou vítima da agonia,
Apenas homizio o meu forte sobroço.
Entre mortos sou o vivo mais angustiado,
Tenho um futuro curto e trago do passado
Uma incomensurável carga de amargura...
Será preciso muito mais que um coveiro,
Trabalhando incansável por um dia inteiro,
Pra colocar tudo isso em minha sepultura.
Piauiense Armengador de Versos