TRILHA DE SONETOS III

TRILHA

TESOURO

Tu sabes, meu amor, quanto aprecio

esse teu jeito ousado, as mãos aflitas,

o lume de teus olhos quando fitas

os meus, causando em mim um calafrio?

Ai! Quando esses olhinhos teus espio

enquanto vais tirando as minhas chitas,

buscando em minhas lavras as pepitas,

meu corpo, de prazer, se torna um rio.

Faísca as minhas águas, todo o leito,

(esse meu corpo morno, liquefeito),

e busca dentro os veios pedras de ouro.

Revira as grupiaras sobre areia...

Bamburra! Gira e gira essa bateia,

que encontrarás em mim veraz tesouro.

Edir Pina de Barros

ETÉREOS DEVANEIOS

Exalam, tênues cheiros, teus jardins

Virgíneos, sob essências hialinas.

As gotas violáceas de neblinas

Rescendem nos segredos de carmins.

Sublime seda albina dos jasmins,

Das curvas, leves brisas campesinas.

Suave, a boca beija as doces crinas,

Meandros desse céu entre os cetins.

A sombra morna que, sutil, ondeia,

Sedenta, pelo visgo, serpenteia,

Buscando o mel que corre fino e rente.

E, enfim, aos vítreos brilhos vaporosos,

Desnuda os rios límbicos, sedosos,

Sorvendo o teu sabor macio e quente!

Fernando Belino

SEDUÇÃO

Nesses teus olhos, eu aquieto meus conflitos

e acendo a chama de dulcíssima esperança;

desvendas mundos tão perfeitos, tão bonitos,

em que, travesso, ascendo asinhas de criança.

Nesses teus mundos não existem os delitos,

tanta alegria em paz saltita em bela dança;

os sentimentos mais cinzentos, tons aflitos

são dissolvidos nos condões da temperança.

Imerso à sedução que entornas em meu tudo,

eu me revisto, audaz, da força e tenho o escudo

de teu estar na vida e, luz, clareio breus.

Revido o murro, salto o muro preconceito

e, finalmente, entregue ao sacrossanto leito,

por um momento, em teu amor, me torno um deus.

Marco A

COMIGO

Perdido tantas vezes neste afeto,

Só sei dizer por lágrimas vertidas

Como essa dor, por máculas sortidas,

Torna difícil ser um homem reto!

Aqui estou, fitando um pobre inseto

Retorno a mim, nas mais introvertidas

Por reflexões de todas as medidas,

Nos átimos de um sonho que projeto!

Voejo sobrepondo o peso e o medo

Vivendo no silêncio o meu segredo

Rememorando o amor inesquecível...

Pois, impedido, pobre engano ledo,

De oferecer o amor que desde cedo,

Guardado, está, comigo, imperecível!

Ricardo Camacho

ESPERAS

Suplicam asas, numerosos pares,

esses desvairos do juízo, implumes,

porque me atingem da lascívia os gumes,

brilham banquetes de carnais manjares.

Se eu te levar, invadiremos ares,

infinitudes da paixão, ardumes;

abraçaremos vendavais, perfumes,

para Afrodite levantando altares.

Senhora, vem extravasar teu gosto,

deitar a seiva, colorir meu rosto,

apaziguar um coração aflito!

Tua presença me alimenta feras,

amansa lábios, adocica esperas

e satisfaz enclausurado grito.

Jerson Brito

ROTINA

Desperto, abro meus olhos, e a cortina

não deixa mais o quarto escurecido,

aos pés da cama ainda o seu vestido

e algumas peças mais, de seda fina.

Seu corpo, mal coberto e distraído,

qual dunas de um deserto, me fascina.

São curvas que desenham na retina

detalhes de um vulcão adormecido.

Silente, encontro as chaves, me agasalho,

entrego-me à rotina do trabalho

torcendo que o relógio ande depressa.

Ao fim do dia esqueço o meu cansaço,

ela se envolve inteira em meu abraço

e em nosso quarto a vida recomeça.

Edy Soares

SONETO DO AMOR PERDIDO

Procuro por você pelo caminho

Que um dia nós trilhamos de mão dada.

Agora, no caminho, estou sozinho,

Sofrendo uma saudade desalmada.

Do nada, desprezei o seu carinho,

Que triste então partiu em revoada,

Deixando, pois, meu peito em desalinho

E a minha essência triste e atordoada.

Humilde e manso, o seu perdão imploro.

Apague toda a culpa que hoje eu choro

E o seu amor jamais desprezarei.

Eu peço, por favor, não me abandone.

Mais nada irei fazer que desabone

O amor que por descuido rejeitei!

Luciano Dídimo

EM NOME DO AMOR

Sei que este mundo cabe simplesmente

na folha em branco de qualquer papel

e o Criador não larga o seu pincel

ao colorir de amor a nossa mente.

Que a Terra nunca seja indiferente

e não levante torres de babel

se a vida é para o globo um aluguel

e a morte faz da vida uma semente

que brota pelas grades do futuro

e faz ruir qualquer que seja o muro

que insista em limitar a fantasia,

fazendo da existência um paraíso

que seja abrigo de qualquer sorriso

e que abra o coração da poesia.

Adilson Costa

DIVINO AMOR

Um toque divino mudou toda terra,

com mãos delicadas fez um coração,

ao mundo ensinando viver feito irmão,

em seus mandamentos pois Deus jamais erra,

Os mares, os rios, descendo da serra ,

Parecem ser telas pintadas à mão,

pediu para amar, tão perfeita lição,

Amor a palavra que tudo descerra.

Nas flores, na brisa, sentimos amor,

Nas céleres asas dum só beija -flor,

Nós vimos o quanto fecunda semente,

O mestre das obras foi Deus Salvador,

Num gesto tão lindo se deu por amor,

Morrendo na cruz, por amar simplesmente !

Dulce Esteves