OCULAR

OCULAR

Como um caco de vidro a me riscar

Por dentro da minha órbita direita,

Eis o mínimo cisco que sujeita

Toda a minha atenção ao seu lugar.

Corpo estranho no meu globo ocular

Que junto ao cristalino então se ajeita

E ali me parasita sempre à espreita...

Dir-se-ia observando-me observar.

Ao verme que roerá as carnes frias

De meu breve cadáver sob a laje

Saúdo em meio a traves e miopias.

E enquanto inopinado o serzinho age,

A despeito do horror e da má sorte,

Eu olho para dentro e vejo a morte.

Betim - 21 05 2020