A CARTA
Nesta carta amarelada em bolor
pelo tempo, o laço fino, elegante,
que adornava a letra viva, brilhante,
hoje jaz abandonada, sem cor.
O papel tão perfumado de amor,
de esperança em ter na vida um instante
da paixão, do sentimento intrigante,
que as palavras não se podem dispor.
Nesta carta de um amor fugidio,
abriguei minha maior aventura,
perfumada pelo instante sombrio.
O papel serve à caneta da vida
e, ao servi-la, renuncia a brancura
às venturas que a paixão me convida.
(soneto experimental)