FOLHA EM BRANCO
Na folha em branco, sua mão procura,
num verso, algum refúgio que o proteja
das surras pervertidas, a tortura
que o serve, brio em postas, na bandeja.
Contudo, o sentimento, imerso à agrura,
(ao que é respiração: mortal peleja...)
não suga nem vestígio de ternura,
sequer retalho, gota, pó, que seja.
Insiste e se concentra, esparramando
o olhar no vão papel alheio às penas
e vem, do veio, à tona, um tom sombrio.
Os fatos borram tudo em torno, o brando;
e o que ele sente e vê lhe faz, apenas,
falar do mundo atroz, tão triste e frio.