BLINDAGEM

Ah, se verso curasse o desgosto

ante a dor da esperança mortiça,

se trouxesse um semblante, no rosto,

de acalanto a cansaço e preguiça...

Ah, se verso banisse a injustiça

do festim desprezível e exposto,

que é o convívio, tocado à cobiça,

entre humanos, verdugos do oposto...

Ah, se verso avivasse a revolta

e a movesse, a ascender-se do chão,

à conquista do brio de volta...

Sim, o verso não vence a opressão;

mas que seja blindagem, a escolta

para o sonho de libertação.