RESILIÊNCIAS

O FARDO

Por quantas vezes segurei no peito,

o meu soluço e na garganta o grito,

pesado fardo, mas, no entanto, aceito,

se a mim foi dado sempre o vi bendito.

Por quantas vezes me pegou de jeito,

a vida, o pranto, o que me foi escrito,

a quem chorou eu declarei respeito,

mas o meu choro sempre foi restrito.

Nem sei dizer se pra manter decoro,

por tantas vezes engoli meu choro

e feito um forte me mantive ereto.

Agradecido por cumprir a meta,

embevecido e com olhar esteta,

já me permito até chorar... discreto.

Edy Soares

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ATÁVICA MELANCOLIA

A incógnita alma, avoenga e elementar*

De um meu antepassado taciturno,

Por atavismo, me forjou noturno,

Recluso, ensimesmado em meu pensar.

No rosto, só penumbra e este pesar,

Presente, em gerações, a cada turno,

Propenso ao breu da noite em tom soturno,

Plural na dor, no riso singular.

Patente, eu sei, não há nenhum motivo

De sempre assim mostrar melancolia,

Tristeza tendo em conta de atrativo.

Quiçá, eu mude, mais ou menos dia,

Findando o tom sombrio em mim nativo

E, em vez de angústia, um pouco de euforia.

Fernando Belino

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COMIGO

Perdido tantas vezes neste afeto,

Só sei dizer por lágrimas vertidas

Como essa dor, por máculas sortidas,

Torna difícil ser um homem reto!

Aqui estou, fitando um pobre inseto

Retorno a mim, nas mais introvertidas

Circunspecções de todas as medidas,

Nos átimos de um sonho que projeto!

Voejo sobrepondo o peso e o medo

Vivendo no silêncio o meu segredo

Rememorando o amor inesquecível...

... Porque, impedido, pobre engano ledo,

De oferecer o amor, que desde cedo,

Guardado, vem comigo, imperecível!

Ricardo Camacho

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ASSOVIOS

Assovio canções, passarinho,

pelas trilhas, bailando animado.

À alegria que borda o caminho,

aprecio o planeta encantado...

Todos dizem que sou contemplado,

ser feliz é presente, carinho

do Divino Senhor Consagrado

e que assim não se fica sozinho.

Retribuo, gentil, com sorrisos

amplos, límpidos, plenos, precisos;

desses risos com sóis de ternura.

Mas não sabes, afável pessoa,

quanto o riso que exponho ferroa

minha entranha de infinda amargura.

Marco A

FÓRUM DO SONETO
Enviado por FÓRUM DO SONETO em 27/04/2020
Código do texto: T6929799
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