O ABUTRE

O sórdido animal saliva enquanto faço

a triste caminhada em direção à morte

daquele sonhador, antigamente forte,

desalentado, entregue ao espinhoso abraço.

Exangue, o coração procura ter espaço

no resto de lembrança, imagem que o conforte,

mas só consegue abrir a rasgadura, o corte

que engole as ilusões, pedaço após pedaço.

Refém de um amargor alimentado, aos gritos,

por este sentimento estranho à luz do senso,

percorro a imensidão do vale dos aflitos.

O abutre testemunha o fim do choro intenso,

aponta o rude olhar, dardeja seus malditos

desejos ao meu corpo e agora eu lhe pertenço...