VAGO LUME

VAGO LUME

Alta noite tudo é melancolia:

Vago lume que vão aos olhos busco

Por entre as sombras desde o lusco-fusco,

Em pontos desfocados na miopia.

Mas tudo não passava de utopia

Ao vasto mundo qu’eu no lume ofusco...

Mesmo que a vida seja o acordar brusco

Em meio a radical misantropia.

Jamais a vida permite-me outro sonho,

Ao me tirar o sono na hora escura,

Fazendo vaga-lume o olhar tristonho…

A utopia alta noite me procura

E de quanto há em mim então componho

A poesia que é doença e também cura.

Betim — 15 04 1993