ADÁGIO

ADÁGIO

Do que s’escreve nunca se abra a boca,

Embora pela boca a frase dita

Não cale a dor do peito, apenas grita.

Seja sua desdita muita ou pouca…

Palavra dita ao léu, um tanto louca,

Como a poesia sobre a linha escrita:

Revisitada a ponto de infinita,

Me aflige na garganta quase rouca.

Algo será poesia ao dizer tudo,

Se, e somente se, for dito sincero,

E por sincero digam ser absurdo.

Procuro ouro na lama em que chafurdo:

Seja poesia o adágio alheio ou mero

Grito dado no ouvido do pior surdo!

Gov. Valadares - 19 09 1995