Desamores
"Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana."
Augusto dos Anjos.
Tive que matar quem eu era outrora
Para esquecer amores do passado,
Joguei minha bondade para o lado
E a angústia os meus olhos devora.
Não acredito em mais ninguém agora.
Rejeito paixões, como um condenado
Que estando prestes a ser enforcado
Outro destino, louco, aos céus implora.
O que se ama no outro é a si mesmo.
Não se quer o bem do outro, afinal
E encaro todo amor com ceticismo.
Amar é, em resumo, irracional
Pois em si leva um paradoxismo:
Todo bem é, no fundo, um grande mal.