ENCANTADOR DE MIUDEZAS

(a Manoel de Barros)

Foi ao nascer, que ouviu a voz do Afeto extremo;

corda e bambu em arco e flecha, acerta a mira:

"Em voo etéreo, o verbo à toa, no ar, delira,

dando rasantes, céu ao chão, ao sol supremo...

Rosa brilhante brota em pedra, um deus blasfemo

rouba-lhe o viço e o entorna em crente, abranda a ira,

acende o fogo, ardendo a paz, que a tudo inspira,

acorda um verso feito, em nuvem, barco a remo.

Conversará, também, com pássaros, miudezas,

como de Barros (a água e orvalho, o sapo nasce),

tal sonhador, do jeito, assim, que namorasse...

Desimportâncias, há de amar de profundezas...

E da palavra, alar silêncios, sua meta...

Encher vazio... É seu destino ser poeta".