SONETO CINZA
À margem de si mesma a cada sina,
Rasura de quem foi num tempo morto,
Suporta a penitência que confina
As horas de seu dia cinza e torto.
A névoa de seus sonhos de menina
Retorna qual lembrança vil de aborto
Ferindo as formas do que contamina
No aqui desse durar seu desconforto.
Não podem resgatá-la de si mesma
As silhuetas errantes do em redor,
Sem rumo aqui, sem ramos, sem Quaresma...
E assombra a espera, em sinos descabidos,
A frase dissonante, em pura dor
Dispersa feito sonhos abolidos.
...