BRILHO SANTO

Levado pelas hordas da tortura

à lama do abandono, estupefato,

contemplo, refletido, meu retrato

marcado pelos dias de clausura.

A espada do desprezo me perfura,

do coração sumoso faz um prato

servido nos banquetes do insensato

chacal sedento pela sangradura.

Despejam-se cristais de desencanto

em cima das feições daquele cenho

e das estrelas têm um brilho santo.

Reflito frente às quedas do ferrenho

amante agora imerso em mágoa e pranto:

merecem outras noites tanto empenho!