QUARENTENA
Avisto da janela o amanhecer lá fora...
Os pássaros cantando alegres, céu aberto,
aquele cafezinho enquanto o trem está perto,
disputo um bom lugar e o ombro o rosto escora.
O tempo se acelera e o passo, então, aperto
e apresso-me a embarcar no coletivo agora,
a fim de assegurar que eu chegue em boa hora
e garantir o dia, o ganha-pão, um teto.
Já hoje, em quarentena, avisto da janela
toda a mercadoria encaixotada ali
na escada: meu biscoito e bolos... meu sustento!
Difícil não chorar ao ver minha panela
vazia e fico em casa a proteger-me, atento,
do vírus da eleição (que mata) e está por vir.