SONETO ARDENTE
Desejo, o amor que no outro a si perscruta,
Encerra em si o querer que nunca morre --
Germina no ermo, é ser sem termo, ocorre
Enquanto pura fúria resoluta.
É chama primitiva na absoluta
Voragem de durar sem cinza ou porre,
É o corpo em plena queda de alta torre
Ardente, é o brilho intenso à mente arguta.
Subverte tempo e espaço, crises, medo
Em quanto prove e em si fulmine, essência
Ou potestade além de qualquer credo.
Nós, órfãos caricatos da prudência,
Seremos do Desejo só o brinquedo
Usado e então perdido em displicência.
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