ABOIO DE GENTE

ABOIO DE GENTE

De manhã, passo em frente à sua casa.

E, desde antes do sol, lá da varanda,

Ele aboiava o povo que à rua anda,

Correndo ao apito quem 'inda se atrasa.

Entoa a voz tangendo a vida rasa

Dos que vão para a fábrica e lhes manda

-- Como se saudação ou ordem branda --

A melopeia que p'los sertões bem aza.

Encontro-o sempre igual: Vermelho e forte,

Seu riso aberto, embora insuspeitadas

Lembranças d'uma tão adversa sorte...

Ele nos tange pelas madrugadas.

E, evocando o sertão, afasta a morte

Sentado sobre as pernas amputadas.

Betim - 19 04 1999