O poeta
Bem como trabalha o bom oleiro,
Assim é do poeta seu labor.
Faz das palavras, qual o escultor,
Dos sentidos, qual o sagaz veleiro.
É dos tristes feliz alvissareiro,
Dos cativos, prezado redentor;
É de um mundo todo criador,
De outro, só benquisto lisonjeiro.
Conhece bem aquilo que se passa
Nos corações em pedaços partidos,
Na vida de sentido tão escassa,
Nas almas de rumo e tino perdidos;
Pois poeta é por essa graça:
Ter o bem e o mal por igual queridos