ROSÁRIO
Pensava estar, altivo, em altos patamares
da humanidade, em vil contenda, vã disputa.
Apregoava, ao feito alheio, seus pilares
em teses tão chinfrins, delírios de conduta.
Achava mesmo andar nos veios estelares,
na austera solidão do que ninguém escuta,
com seus sonetos, mais perfeitos exemplares
já produzidos Terra adentro, verve arguta.
E prosseguia, só, roendo seus rigores,
sorvendo o próprio fel, veneno hemorroidário
de inveja e mágoa; fogo à pele, gelo em osso.
Olhar de empáfia, a rude esgar dos ditadores...
Até que um dia, atado ao cunho seu rosário,
mirou o céu, do chão saltou, caiu no fosso.