SONETO INSONE
Modorra a madrugada -- da janela
Divisa a lua, exígua, itinerante
Em sonho alheio, pouco interessante
À hora extrema, a angústia de perde-la.
A convulsão de rubros numa tela
Ferida por um louco toma o instante.
A paz é o continente mais distante
Do agora, abstrusa a mágoa de quere-la.
Se o pio de aziago pássaro em seu ramo
Desdiz do sol que cedo ou tarde vem,
Lamenta-se a si mesmo : 'Ah, já não amo...'.
E o dia, que por ele é só desdém,
Trará razões pelas quais não reclamo
Por tão pouco e de tudo e por ninguém.
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