Menestréis do ódio
(A um louco)
“Vem, pois, poeta amargo da descrença,
Meu Lara vagabundo –
E c’o a taça na mão e o fel nos lábios
Zombaremos do mundo!”
(ÁLVARES DE AZEVEDO)
Tal como tu, noutros tempos eu cantaria
Sobre o bem que o mundo tem a ofertar,
Ansiando com júbilo compartilhar
Meus mais belos sonhos em forma de poesia.
Mas, vários anos decorridos, quem diria
Que o mesmo mundo haveria de envenenar
Nosso verso, forçando-nos a blasfemar
Contra os ideais que amamos um dia?
Tu já és velho, amigo, e encarquilhado;
E veja como ainda sou jovem e loução –
Mas da mesma taça que tu já hei tragado.
Ó irmão de fado, aperte minha mão!
Riremos um dia ao ver o mundo afogado
Pelas lavas do ódio em nosso coração!