COROA DE SONETOS   - PRODUÇÃO COLETIVA  DOS MEMBROS DO FÓRUM DO SONETO
 
TEMA GERAL – ENCANTOS DA NATUREZA  E  BUCOLISMO
 
     A Coroa de sonetos foi inicialmente composta com apenas 7 sonetos, feita por Afonso Felix de Sousa, em tradução de soneto de John Donne, utilizados como prólogo aos "Holly Sonnets". E foi assim que foi colocado o verbete na "Encyclopedia of Poetry and Poetics": um conjunto de sete sonetos, apenas, entrelaçados, onde o último verso de um soneto é o primeiro do soneto seguinte, sendo o último verso do sétimo o primeiro verso do primeiro soneto.

     Geir Campos, em sua Coroa de sonetos , utilizou-se de 14 sonetos, a partir dos versos de um outro soneto. Sua coroa de sonetos, assim denominada, não fechou-se, ou seja, o último verso do último soneto não era o primeiro verso do primeiro soneto. (Alguns sonetistas ainda hoje utilizam esta forma.)        

      Edmir Domingues, a respeito, disse:  "Na verdadeira coroa de sonetos há catorze sonetos interligados, onde o verso que fecha o primeiro começa o segundo, o que fecha o segundo começa o terceiro, e assim por diante, sendo o último verso do décimo quarto soneto o primeiro verso do primeiro soneto. E o décimo quinto soneto é a coroa, a coroa verdadeira, porque é composta dos catorze versos que começaram e terminaram os outros, sendo o primeiro verso da coroa o que terminou o primeiro soneto da série e o fecho o verso que a começou."
   
Fonte: Coroa de sonetos -  Wikipédia, a enciclopédia livre.
 
AUTORES
 
SONETO I  -  FERNANDO BELINO – CREPÚSCULO
SONETO II  -  FERNANDO BELINO – CIO DA TERRA
SONETO III  -  JERSON BRITO  - NATUREZA EM FESTA
SONETO IV  - ADILSON COSTA  - ARMISTÍCIO DA NATURA
SONETO V  - EDY SOARES –  NOSTALGIA
SONETO VI  - RICARDO CAMACHO  - EXALTAÇÃO
SONETO VII  - HÉLIOJSILVA   - BOAS NOVAS
SONETO VIII  - JOSÉ RODRIGUES   - TRANSIÇÃO
SONETO  IX  -   JOSÉ RODRIGUES  -  ROTAÇÃO
SONETO X  -  RICARDO CAMACHO -  NOBRE CALMARIA
SONETO XI  - EDIR  PINA DE BARROS - SINA DE PESCADOR
SONETO XII  - EDIR PINA  DE BARROS - CAJUEIRO EM FLOR
SONETO XIII  - MARCO AURÉLIO VIEIRA  - CÉU
SONETO XIV  - MARCO AURÉLIO VIEIRA - O SERESTEIRO
SONETO XV  -  FERNANDO BELINO -    COROA   - NOITE DE ENCANTOS E CANTOS 
 
 
SONETO I    -  CREPÚSCULO
 
À tarde, no horizonte, o sol declina.
Pouco a pouco, vai tudo se acalmando. 
As aves para os ninhos vão-se,  em bando.
Sereno,  o lago de água cristalina.
 
Viola, o sertanejo, em breve, afina.
E, logo, ecoa triste, doce e brando
Um canto a mais um dia que termina
E pela escuridão que vem chegando.
 
À noite, um manto desce sobre a mata,
Estrelas salpicando o céu inteiro.
E tudo explode em sons de  serenata.
 
Cadeiras na varanda e  no terreiro.
E a   Lua, embevecida, cor de prata,
Pedindo uma canção ao seresteiro.
 
 
SONETO II   - CIO DA TERRA
 
Pedindo uma canção ao seresteiro,
Celebra, noite adentro, a grande luta,
De cultivar o solo, o dia inteiro,
Banhando, de  suor, a terra bruta.
 
No sonho, de  um futuro alvissareiro,
Tão firme, em sua faina resoluta,
Capina, aduba  e lança, num canteiro,
Sementes que hão de dar tão doce fruta.
 
Assim, vive no campo o lavrador,
Cumprindo fielmente sua sina:
De o próprio pão forjar, com seu lavor.
 
Mal rompe o novo dia, de rotina,
Saúda,  numa prece de louvor,
Um pássaro que, junto à fonte, trina.
 
 
SONETO III  -  NATUREZA EM FESTA
 
Um pássaro que, junto à fonte, trina,
Embala a borboleta em rodopio
Com o seu canto e faz a bailarina
Deitar deslumbramento sobre o rio.
 
A imagem se enamora da retina
Do camponês montado no arredio
Cavalo que também levanta a crina,
Igual a quem celebra o fim do estio.
 
Ao fundo, uma chapada enfeita o viço
Trazido pelas águas, santos jorros,
Àquele solo triste, morrediço
 
E o sabiá, feliz junto ao  roceiro,
No verde entardecer, por entre os morros,
Na mata, busca abrigo bem ligeiro.
 
 
SONETO  IV    -  ARMISTÍCIO DA NATURA
 
Na mata, busca abrigo bem ligeiro
Quem ouve o som mordaz da motosserra
E o tronco ensanguentado, tanto berra,
Pedindo trégua para o mundo inteiro.
 
Já não se exala mais aquele cheiro
Que outrora perfumava a nossa terra,
Pois o planeta agora está em guerra
Trocando as suas vidas por dinheiro.
 
Não vejo em qualquer canto uma defesa
Pela preservação da natureza
No intuito de mudar tão triste sina
 
E o céu nada melhor nos profetiza
Que a nuvem preguiçosa logo avisa:
No monte, surge lúgubre neblina.
 
 
SONETO V  -    NOSTALGIA
 
No monte, surge lúgubre neblina
E o verde ganha um tom de nostalgia.
Aos poucos, surge, em meio à névoa fria,
O sol, como quem rasga uma cortina.
 
As maritacas abrem cantoria
Nos manacás e pés de tangerina,
Até que, em rebeldia, a sururina
Avisa que o arrebol já se anuncia.
 
Com a névoa, o sol, o monte e a passarada,
Finda-se, assim, um dia de jornada,
Que instiga a inspiração do seresteiro.
 
A noite embrulha o sol que vai sumindo,
E ao fim desse espetáculo tão lindo
A sombra chega em passo sorrateiro.
 
 
SONETO VI  - EXALTAÇÃO
 
A sombra chega em passo sorrateiro
Dos cedros levantados desde cedo,
Silente, inspira a estrada entre o arvoredo
Que enverga-se pro solo, o seu herdeiro!
 
O prado ao longo, ameno, fresco e inteiro
Torna em louvor o canto desse enredo;
- O amor, ó natureza, a ti concedo! -
Ridente tudo como um bom cordeiro.
 
Voejam aves de benditas cores,
Que expulsam na visão de dissabores
A dor mais íntima que sempre ensina.
 
E sobre a ponte lembro dos amores,
Amores tantos - Vi naquelas flores! -
No barco, segue um pescador a sina!
 
 
SONETO VII   -  BOAS NOVAS
 
Num barco, segue um pescador a sina
Depois de um dia atípico e aparente.
Onde a beleza do local fascina,
Com o manso descansar do sol poente.
 
À noite, a lua surge cristalina
Mostrando sua força surpreendente.
Na casa da fazenda a lamparina,
Faz a simplicidade integralmente.
 
No amanhecer, o pássaro anuncia.
As boas novas desse novo dia,
Do calor abafante e corriqueiro...
 
O dia traz o aroma fabuloso!
O tempo fica cheio, nubiloso,
E as garças vão deixando seu pesqueiro.
 
 
SONETO VIII     -   TRANSIÇÃO
 
E as garças vão deixando seu pesqueiro
Em busca de locais para descanso,
Assim como a gaivota e o bravo ganso
Se abrigam junto às rochas lá do outeiro.
 
Quais flechas atiradas por arqueiro
As aves se dirigem ao remanso
De olhar esse espetáculo eu não canso,
Podia apreciá-lo o dia inteiro.
 
Satisfeitas as garças abandonam
O lugar que escolheram pra pescar
E, no céu, seus perfis impressionam...
 
O ocaso perde as cores, mas é nobre,
Raras aves,   inda ousam  chilrear.
Por fim, grande penumbra tudo cobre.
 
 
SONETO IX   - ROTAÇÃO
                        
Por fim, grande penumbra tudo cobre,
Revelando que o dia chega ao fim;
Desde tempos remotos foi assim
Canoro, o bem-te-vi seu canto encobre.
 
Um predador noturno, pouco nobre,
Deixa a toca, em busca de festim.
Carniceiros! Disputam o botim,
Pro fraco restará só o que sobre.
 
O Sol aquece a Terra, frontalmente,
E a inclinação desta, arma as estações,
Que no trimestre mudam, plenamente...
 
Hoje, a Estrela brilhou ativamente,
A noite pediu vênia às emoções,
O dia a escurecer  completamente.
 
 
SONETO  X  -  NOBRE CALMARIA
 
O dia a escurecer completamente,
Expulsa a passarada fulgidia,
O inverno agreste fez-se moradia
E invade com friúra veemente!
 
Os ares, pois, varridos, realmente,
Sacodem prados, vige o fim do dia;
Aquele azul celeste concedia
Um tom alegre e o Zéfiro inocente!
 
Noturna mãe descansa o verde louro,
Tornando prata as folhas, um tesouro,
Fecundo campo em calmaria nobre!
 
Espalha a natureza um sono d'ouro,
A treva se reflete um sumidouro...
... Tristonho, um sino ao longe, em tênue dobre!
 
 
SONETO XI   - SINA DE PESCADOR
 
Tristonho, um sino ao longe, em tênue dobre
Derrama sobre a tarde nostalgia,
Um delicado tom sereno e nobre
Repleno de beleza, poesia.
 
O céu,  com véus e rendas cor de cobre,
Envolve a mata, a casa, a igreja, o dia
Com tendas noturnais a tudo encobre,
Somente um bacurau soluça e pia.
 
No barco, sem destino, qualquer norte,
O pescador rumina a sina, mágoa,
De haver perdido a amada para a morte.
 
Contempla, a lamentar, seu duro fado,
A lua refletida sobre a água
E o céu aberto em luz, de lado a lado.
 
 
SONETO XII   - CAJUEIRO EM FLOR
 
E o céu aberto em luz, de lado a lado,
Palco da lua, eterna peregrina,
Entorna seu fulgor sobre o cerrado,
No cajueiro em flor, que se ilumina.
 
E tange o pescador demais cansado
Da dor que o desviscera, desatina,
Afaga seu viver desencantado,
Beirando mesmo o caos, uma ruína.
 
A lágrima tremula, escava o rosto
E forma em sua tez uma corrente,
Que deixa o seu penar ao mundo exposto.
 
O firmamento inteiro, refulgente,
Para amainar a força  do desgosto,
Acende, cada estrela, de presente.
 
 
SONETO    XIII  -  CÉU
 
Acende cada estrela, de presente,
E as cede, iluminando, ao lago brando.
Exibe, pleno, altivo, seu comando,
O céu que abraça tudo, onipresente.
 
O humano fervilhante, em susto, urgente,
No ciclo infindo e aflito quanto-e-quando,
Se pouco faz da Terra e o céu ressente,
Recebe seu furor minaz, nefando.
 
Mas este céu ferido, atroz, ferino,
Vaidoso, vingativo, tão malvado,
Que entorna tempestades, assassino...
 
É  o mesmo a dar a Lua, alucinado,
Depois de serenado, já menino,
Ao simples seresteiro apaixonado.
 
 
 SONETO XIV     -   O SERESTEIRO
 
Ao simples seresteiro apaixonado,
Apenas noite e estrelas e a viola,
Além do lindo amor abençoado,
Que ao triste, solitário, bem consola...
 
Entoa doces notas, afinado,
Ao gato recostado à portinhola
E ao verde lucilando de orvalhado.
A terra toda em volta cantarola.
 
O moço não precisa de farturas,
Tampouco bobos mimos e mesuras;
Possui a Lua, sua irmã menina.
 
Clareia o  dia, vida em movimento...
E, à dura lida, ampara-se no alento:
À tarde, no horizonte o sol declina.
 
 
SONETO – XV – COROA  - NOITE DE ENCANTOS E CANTOS 
 
À tarde, no horizonte o sol declina,
Pedindo uma canção ao seresteiro.
Um pássaro, que, junta à fonte trina,
Na mata, busca abrigo bem ligeiro.

No monte, surge lúgubre   neblina.
A sombra chega em passo sorrateiro.
No  barco, segue um pescador a  sina.
E as garças, vão deixando seu pesqueiro.
 
Por fim, total penumbra tudo cobre.
O dia a escurecer  completamente.
tristonho, um sino ao longe, em tênue dobre.
 
E o  céu aberto em luz de lado a lado.
Acende cada estrela, de presente,
Ao simples  seresteiro apaixonado.
 

 
 
 
 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado), Fernando Belino, Jerson Brito, Marco A. e e outros
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 25/03/2020
Reeditado em 11/05/2020
Código do texto: T6896658
Classificação de conteúdo: seguro
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