Velho soneto meditabundo
Por vezes penso, deprimido
Que a minha instável existência
Seja menos que a mera purulência
De um organismo ressequido
Minha mãe, então uma adolescente
Repleta de dúvidas, dor, medo
e meu pai, que odiaria ser pai tão cedo
Tentaram me dar um fim indecente.
Sobrevivi, mas ainda hoje lamento
Ao universo, ao seu frio soturno
E perdido, exijo resposta a esse pesar
Uma resposta que finde esse tormento,
Mas só escuto, através do vento noturno:
“Não tens nem o sagrado direito de chorar”.