EMBUSTE

EMBUSTE

Tu, com que sortilégios m'encantaste,

A ponto d'eu querer bem o meu mal?

Roubaste-me de mim todo, afinal,

Passados anos e anos de desgaste.

Tomar como tesouro um outro traste,

Decerto é algum carma espiritual.

Tu me sugaste tudo. No final,

Restou a vida cinza, sem contraste.

Eu sei que voltarás quando preciso,

Mas juro que estarei de sobreaviso

Para negar-me a ti o que restou.

Pois nem uma ilusão tão destrutiva

Haverá-de cegar, pondo à deriva

Meu amor que era pouco e se acabou.

Betim - 23 03 2020