Caladas e surdas - soneto

Mais um dia vazio, céu torpedeado de nuvens negras,

se arrastando na imensidão de uma abóboda enegrecida.

Lumeeiras inconstantes, acendem e apagam em delírios

vazios, fúteis e dizimados pelas horas que as envolvem.

Como caravanas a desfilarem pelo imenso e árido ermo.

Numa formação constante do cotidiano. Horas se perdem

formando, estes inevitáveis dias de lembranças e saudades

que ficaram como marcas encrustadas neste sobrevindo.

Daqui sentado. Neste banco tosco, aprecio o mar a se agitar.

Com suas ondas encrespadas a derramar brumas na areia,

como se estivessem a soluçar a mais bela, canção da manhã.

Me arrojo assim apoiado em meu bastão amigo e comparte.

Deixando os delírios e as ilusões para horas vindouras. Quê

em refúgio e meditação. Por certo estarão caladas e surdas.