SONETO QUARESMAL

Vê bem que és pó, és cinza, és sopro, és nada;

és uma sombra breve e passageira;

elevar-se, assim, tua alma não queira:

não andes por aí com ela enganada.

És homem e não Deus: a tua estada

por aqui é tão breve! E logo à beira

do báratro estarás. Tua caveira

já podes ver, polida e descalvada.

O teu ser recebeste: presta conta

do que dele fizeste, bem ou mal

— porque nada será de pouca monta.

Desde então, pois, apega-te ao eterno;

olvida o passageiro, o temporal:

procura a Deus, evita e teme o Inferno.