Sombra

Trépido o corpo, tal cortina leve

que o vento açoita toda noite fria,

no chão da casa a mesma sombra escreve

à luz do teto – muda companhia.

Mil novecentos e noventa, breve

e brutalmente, outro de mim recria.

Fugaz olhar, como olha o sol a neve

a transmutá-la noutra poesia.

Volto a ser um. Meu corpo acalma tarde.

Apago a luz, mas o clarão da rua

insiste entrar pela janela – um dó.

Vem-me trazer, acaso me acovarde,

símile estampa, para que eu possua

dom de fingir que não existo só.

Alex Olliveira
Enviado por Alex Olliveira em 17/02/2020
Reeditado em 07/04/2020
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