A TERRA, O HOMEM, A LUTA, A FOME, A MORTE
Sagrada morte e vida Severina
Lágrimas retirantes da agonia
Latifúndio irreal sem melhoria
No campo de batalha... de chacina.
Solo de ringue, crise, glicerina!
Desse sangue inocente em disforia
No chão de luto, luta em aporia
Extermínio da fé, sanha uterina.
À procura da terra prometida
O resgate das almas, guerra santa,
Riso da morte, faca na garganta!
A mando do governo, ato homicida
Da Tragédia anunciada, sem aporte,
A terra, o homem, a luta, a fome, a morte!
Heliojsilva 13/02/2020
&
Grande Poeta Fernando Belino. FRAGMENTO DE MORTE E VIDA SEVERINA. A casa é nossa, muito obrigado.
Dialogar com João Cabral é sempre bom e necessário. Mesmo falando da morte em todas as suas dimensões, o poema é um canto de exaltação da vida: Um auto de Natal. No final há passagens belíssimas como a que segue:
“— De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.
— É tão belo como a soca
que o canavial multiplica.
— Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas.
— Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.
— É tão belo como as ondas
em sua adição infinita.
— Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria.
— Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.
— Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.
— Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.
— E belo porque o novo
todo o velho contagia.
— Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.
— Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.
— Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.”
(Frag. Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto)
Forte abraço.
Para o texto: A TERRA, O HOMEM, A LUTA, A FOME, A MORTE (T6868229)